quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Recado


  Bom, o meu post de hoje – depois de três meses sem escrever nada aqui, nem sei se posso usar essa expressão – fala sobre certas atitudes que me afetam e fazem pensar.

  Não sou uma moça criativa. Pode ser que escreva bem como alguns já me disseram, mesmo que muito rara e inconstantemente. Já tive pretensões na literatura, não tenho mais. Sei lá, eu vejo a literatura como coisa para poucos, enquanto arte, e patrimônio de todos à medida que nos apropriamos dela. O escritor precisa ter uma laboriosidade grata, não sofrida, trabalhada; que vai lhe dar um estilo próprio, uma alma. Também não deve sair falando abobrinhas, a ideia precede ou acontece com a escrita. O texto, por fim, é totalmente alheio ao escritor. Por mais que haja entre ambos a relação pai-filho, causa-consequência, o que sai desse momento diz o que se pretendia dizer a quem escreveu, porém pode contar mais, pode ser menos ou totalmente diferente para quem o leia futuramente.

  Quem faz literatura sofre do mal do perfeccionismo sempre, da tentativa de reconciliar as ideias com as palavras. Elas brigaram há muito tempo, dessa desunião nasceu também a mentira, e se afastam cada vez mais com o tempo. Nem eu queria ter dito isso, já disse, então deixa ser.  Não dá para sentar e colocar besteiras no papel, por mais que se tenha motivação pessoal ou profissional para tanto, e achar que é literatura. A própria definição de literatura nos diz que consiste na arte de fazer com que o arranjo de palavras tenha um sentido a mais. É um diga e desdiga, dizendo.

  Às vezes eu sou tomada de uma vontade súbita de escrever. Mas, como dizem os antigos, vontade dá e passa. Assim são poucas as oportunidades em que me permito escrever. Tenho consciência da fraqueza das minhas imaginações. E aceito, dolorosamente, meus limites, embora ceda quando é muito forte.  Além do mais, há o fato de que ninguém lê o que eu escrevo. Nem eu leria.

  Toda esta longa introdução só para dar o recado a quem queira entender. Gente, sofrer por amor é perfeitamente normal, aceitável e humano. Quando é que vamos entender que, como tudo na existência, o amor carrega um tanto de dor e de jogo nas veias? É, jogo. Não digo jogo pensando que um manipule premeditadamente o outro, ou ambos o façam. O que pretendo expressar é meu ponto de vista de arranjo, porque o amor é como a literatura, se faz do arranjo, palavras e pessoas, daí dialogarem tão bem. O problema, e por que não dizer o feio, é quando o sofrimento vem, para quem está sofrendo, a ser motivo para uma verborragia que se roga literatura, e é nada alusiva. Não tem coisa alguma de intimista ou de existencialista em mandar recados através de poemas. Deixa então que o amor se vá como as palavras se vão, lentamente, resultado de dor e de muita paciência. Falar nem sempre ajuda. Expor a dor, como se diz ‘exorcizar’, só ajuda entre quatro paredes e em cadernos pessoais. Fora isso, você mostra toda a sua incapacidade de ser criativo, e ainda paga de idiota.

3 comentários:

  1. Só não concordo com "ninguém lê o que eu escrevo".

    Você é brilhante

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  2. Nossa! Adorei muito! Amiga, vc é incrível!
    Suas palavras refletem sua força e inteligência, parabéns por ser assim!

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  3. Vcs são incríveis! Isso sim. Se uma coisa eu tenho de bom, de bom não, de ótimo, são minhas meninas! =)

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